Em tempos como esses, no Brasil não se fala em outra coisa, que não sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Para esquentar o debate, no mês passado surgiu o Movimento Gota D'água, quase como uma cópia de numa campanha americana. Enfim, nela muitos famosos quiseram entrar no debate e guiar a opinião pública. Entre os argumentos vale destacar:
- O altíssimo preço da obra (19 bilhões de reais), sendo 80% do financiamento proveniente de impostos (via BNDES).
- A necessidade de inundar uma região equivalente a 0.01% da Amazônia Legal – não vale dizer números altos, porque palavras tipo "milhões" ou "bilhões", na minha opinião, só assustam.
- A necessidade de deslocar povos nativos (para não entrar na discussão se são ribeirinhos ou indígenas).
- O fato de a represa ficar operando em capacidade ociosa durante 2/3 do ano.
Do outro lado, a favor de Belo Monte, os argumentos são:
- Hidrelétricas são baratas a médio-longo prazo, além de produzirem "energia limpa".
- O Brasil vai parar de operar logo logo se não conseguir produzir mais energia.
- As populações deslocadas receberão toda a atenção e terão mais acesso a serviços públicos
- A ociosidade da hidrelétrica durante 8 meses do ano se explica pela falta de um reservatório maior, medida tomada para agradar aos ambientalistas.
De qualquer jeito,
Há dois argumentos que precisam ser reconhecidos tanto pelos que defendem a construção, quanto pelos que se opõem a ela.
O Brasil precisa de energia para continuar crescendo. E alguns especialistas já dizem ainda que se não fosse pela crise de 2008 e o Brasil tivesse continuado o ritmo de crescimento que estava tendo, por agora estaríamos enfrentando outro apagão energético.
Bom, dito isso, há alguns outros detalhes que precisam ser adicionados ao debate. Primeiro, a hidrelétrica é um meio de fabricar energia barata a longo prazo. Em seguida, é bom frisar que o Brasil já vem se dedicando a construir hidrelétricas desde a década de 1970, quando construímos a Itaipú Binacional - bem perto do Pantanal.
Por outro lado, também temos que reconhecer a veracidade de outras pesquisas, que apontam este este modelo privilegiando os grandes centros urbanos. Na verdade, se considerarmos que até pouco tempo atrás muitas casas no interior não tinham acesso a energia elétrica, este fato até que se comprova. Hoje em dia, no Brasil, temos apenas alguns centros urbanos significantes (e todos eles, super inflados). Então, segundo essas pesquisas, de uma forma ou de outra, grandes hidrelétricas somente ajudariam a solidificar esse sistema desigual de distribuição demográfica, cujos afeitos já conhecemos bem (pobreza, sobrecarga nos serviços públicos, poluição, falta de planejamento urbano, desemprego, etc).
Na minha opinião,
Só pelo fato de a hidrelétrica estar na região Norte, isso não significa necessariamente que estaríamos levando o desenvolvimento àquela parte do país. Afinal, a parte chave do projeto é e estrutura de transmissão que estão querendo construir paralelo à usina - isto é, analisar direito para onde vai essa energia que querem produzir. De uma forma ou de outra, estou certo desde já de que a energia que os nortenhos e nordestinos precisam é mais inteligente que a energia que uma hidrelétrica de todo esse porte pode gerar.
Dizem que energia solar (fotovoltaica e eólica) ainda não é competitiva no mundo. Na minha opinião, sozinhas, realmente podem não bastar. Mas só para se ter uma ideia, segundo Ricardo Rüther, um especialista da UFSC “o lugar menos ensolarado do Brasil (Florianópolis) recebe 40% mais energia solar do que o lugar mais ensolarado da Alemanha”. A comparação com a Alemanha foi somente pelo fato de esse país ser um dos maiores investidores em energia solar, não querendo dizer nada além disso.
E tendo isto em mente, quando eu olho para estes mapas abaixo, não dá para os meus olhos não brilharem! Para mim, realmente parte da solução do nosso problema energético está em expandir o PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica)!
Reparem que os lugares mais propícios para a instalação de modernas centrais geradoras fotovoltaicas e eólicas estão justamente no NE. E neste ano mesmo, em 2011, estão em fase de autorização mais de 130 usinas eólicas e solares do Brasil (lógico, ainda muito aquém do ideal)
ÍNDICE DE RECEBIMENTODE RADIAÇÃO SOLAR NO BRASIL
MAPA DOS VENTOS NO BRASIL - POR INTENSIDADE
- Devemos priorizar o desenvolvimento da energia solar no Brasil.
- Devemos financiar a construção de mais Pequenas Centrais Geradoras de energia (de qualquer tipo e inclusive na Amazônia, uma vez que sendo pequenas não agridem tanto o meio ambiente).
- Devemos valorizar iniciativas como a primeira central geradora solar do Brasil (MPX - do Eike Batista)
- E como reconheço que talvez isto não seria o bastante, para complementar, por que não ampliarmos o número de termelétricas (a base de etanol) nas regiões N e NE?
No curto prazo, talvez a expectativa é que sujemos um pouco a nossa matriz energética. Pelo menos até que todos os investimentos fossem feitos... Contudo, apesar de estarmos fazendo um investimento muito mais diversificado e complexo, reduziríamos significantemente os custos relacionados a redes de transmissão e poderíamos fazer uma revolução na lógica urbana nacional!
Ao mesmo tempo, o que desanima é que para chegarmos a esta conclusão no congresso, teríamos que reformar o nosso PNE (Plano Nacional de Energia), reduzir os valores das obras, conceder mais incentivos fiscais, etc, etc, etc...
Ao mesmo tempo, o que desanima é que para chegarmos a esta conclusão no congresso, teríamos que reformar o nosso PNE (Plano Nacional de Energia), reduzir os valores das obras, conceder mais incentivos fiscais, etc, etc, etc...
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PS: Para que acha que termelétricas têm necessariamente que ser a base de carvão, no ano passado a Petrobrás construiu em Juiz de Fora – MG a primeira usina termelétrica flex DO MUNDO...
E já me protegendo de críticas quanto à questão do etanol. Não, eu não consigo ver o etanol como uma ameaça real à produção de alimentos mundial. E, sim, eu me preocupo com as condições nas plantações de cana-de-açucar. Só não acredito que uma temporária incapacidade de policiamento possa fechar uma porta como essas em termos de modificar a nossa matriz energética!
Se formos nesse caminho, a resposta está dada! Teremos energia, levaremos empregos ao NE e ao N, faremos uma boa distribuição da energia produzida. E ainda por cima daremos um excelente exemplo ao mundo. O Brasil precisa pensar em energia SIM! Mas precisa pensar em energia INTELIGENTE!